Cheira-me que a moda não se fica por aqui

Estava eu, aparvalhada porque eram 7 e meia da manhã, a ver Baby TV, enquanto o meu filho brincava com puzzles, escumadeiras e latas de atum (daquelas grandes, de 900g, que têm tampa de plástico e que eu reutilizo para guardar as peças dos puzzles, que é o máximo que consigo fazer de bricolagem/reciclagem/diy), quando começa todo um sofisticado videoclip com a música "Jardim da Celeste".

Até aqui, aceitável, tendo em conta o facto de estar com um pijama em que a camisola estava descoordenada dos calções (os calções correctos devem estar enfiados no cesto da roupa para engomar; a bem dizer, eu não tenho um cesto, tenho um poço de roupa para passar a ferro!).
A questão é que a letra foi totalmente desvirtuada e subvertida!
Começa então a lengalenga com "eu fui ao jardim da ANA, giroflé, giroflá!"
Eu que ainda estava em jejum, quedei-me emocionalmente abalada.



Sobrevivi, com muita mágoa, ao aviltamento dos Estrumpfes (aka, para mal dos meus pecados, Smurfs, que mais parece um grunhido de desprezo neandertaliano); seguiu-se a desonra da Anita (que ela mudasse o apelido porque se tinha casado entretanto até aceitava, agora "Martine"...) e aí eu pensei "mau, Maria, à terceira vira moda!". Pumba, vem o golpe de misericórdia à Celeste.



Nós, pais, já sabemos que temos que enfrentar o hiato geracional na terrível adolescência dos nossos filhos (felizmente ainda muito longínquo para mim!) e tentar chegar até eles transpondo esse obstáculo a que chamam os mais sofisticados de "generation gap" com a ginástica do Indiana Jones e as artimanhas do MacGyver (vá, esses não mudaram de nome... ainda!). Agora querem antecipar isso com comportamentos destes. Porque nós, que já começamos a ficar rezingões e jarretas e a opormo-nos a algumas modernices porque "no nosso tempo é que era", ficamos com o papel que nem a Rita Pereira quer representar do velho do Restelo. E os miúdos ficam a olhar para nós, em estase. "Estrum-quê? Quem é a Anita? Deve ser a vizinha de cima, a quem o pai piscou o olho, no outro dia. Acho que é estudante universitária, relações públicas ou lá o que é. E a Celeste deve ser a senhora que lava as escadas do prédio..."

A sério, vão mesmo dar-me esse papel, a mim que tenho uma criança pequena nos braços para criar? E que instinto de travestismo é esse, gente? Lá porque a lei permite não vamos todos a correr à conservatória aos 18 anos mudar o nome. E se sim, pelo menos consultem os venezuelanos. Esses é que sabem engendrar nomes com pompa e fausto, basta ver as novelas deles.
Já sei. Menos, Vanessa, menos...

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